Economia
Saneamento universal deve vir antes do esperado, diz presidente do BNDES
Gustavo Montezano concedeu entrevista exclusiva ao SBT News
Débora Bergamasco
• Atualizado em
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O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), Gustavo Montezano, disse que em entrevista exclusiva ao SBT News que a universalização do saneamento básico no Brasil pode vir antes de 2033. De acordo com ele, o sucesso dos dois leilões realizados em setembro e outubro deste ano demonstrou o potencial do setor e fez com que governadores e secretários pedissem ao banco de fomento para acelerar as licitações deste serviço. Hoje, 47% da população brasileira não tem acesso à coleta de esgoto.
SBT News: Qual é a avaliação do senhor sobre os resultados dos leilões do setor de saneamento básico?
Gustavo Montezano: O tamanho financeiro do setor de saneamento no Brasil é maior do que a gente imaginava. Quando a gente preparou a modelagem e o plano de longo prazo a gente achou que o potencial financeiro era um; e o que o mercado está mostrando para a gente, com números, é que ele tem mais rentabilidade e muito mais frutos de rentabilidade futura do que inicialmente previsto.
Isso pode gerar uma antecipação no processo de universalização do saneamento no Brasil?
Com certeza. Na hora que o investidor vê mais atratividade financeira naquele ativo, ele tem mais viabilidade de antecipar os investimentos. Isso está acontecendo não só pelo lado privado, mas conversando com os governadores e com os secretários responsáveis pelas modelagens, eles têm nos pedido para antecipar os investimentos para que a população sinta esses benefícios de uma forma mais célere.
Tecnicamente, é possível fazer essa aceleração?
Totalmente possível. Naturalmente, você tem um limite físico do investimento, porque você não consegue fazer três obras no mesmo lugar ao mesmo tempo, mas financeiramente isso é bem viável e a gente já vai verificar isso nas rodadas de 2020 no setor. Ainda tem muita água para rolar, mas queremos licitar no Rio de Janeiro e lançar o edital ainda neste ano para que o leilão ocorra em março do ano que vem.
Leia abaixo - e assista em vídeo - o que o presidente do BNDES declarou sobre outros assuntos na entrevista.
O presidente do BNDES defendeu a privatização de parques nacionais brasileiros. O plano é que eles comecem a ser licitados no último trimestre de 2021.
Como está o planejamento para a concessão de parques nacionais brasileiros?
A concessão dos parques tem o potencial de transformar o turismo ecológico no Brasil. Ele é pouco explorado financeiramente. O exemplo que eu gosto de dar é o de Foz do Iguaçu, onde você tem um parque belíssimo, com uma boa estrutura turística e recebe milhões de visitantes. Quais os benefícios à sociedade ali? A comunidade onde os parques estão situados desenvolve seu turismo, sua gastronomia, a comunidade fica com mais capacidade de permanecer no interior. E do lado do poder público, facilita a fiscalização. É uma combinação de desenvolvimento regional nas cidades que têm os parques e proteção ambiental.
E como está o calendário dessas concessões?
A gente está fazendo uma modelagem mais leves para esses parques. A gente não pode comparar com uma rodovia, um porto, uma ferrovia. É um ativo de infraestrutura, mas é um ativo mais leve. Estamos fazendo um pacote, um programa. E esperamos que a partir do último trimestre do ano que vem a gente já consiga ver esses leilões iniciando.
Muita gente acha que vocês vão vender os nossos parques. É isso?
Muito pelo contrário. A gente não está vendendo. A gente está pegando um ativo público, que hoje o poder público não consegue cuidar e não consegue fazer a viabilização turística como a gente gostaria, e estamos dando para um operador privado para que ele possa fazer a gestão daquele ativo. Mas o ativo continua público. Quem fiscaliza, quem toma conta da parte ambiental continua sendo o poder público.
O Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES) está investindo na criação de novos produtos financeiros para atender à demanda do mercado que busca investimento galgado em práticas de sustentabilidade ambiental. Montezano destaca a necessidade de monetizar os ativos verdes do Brasil, como a floresta Amazônica, por exemplo.
Como é a política do BNDES hoje para concessão de crédito sustentável?
Quando a gente fala de política de concessão de crédito para ativos ambientais, o BNDES não se diferencia muito dos bancos privados.
Onde a gente está apostando nossas fichas e realmente vendo que o BNDES pode fazer a diferença? Na criação de novos produtos financeiros. A demanda por ativos ambientais está crescendo no mundo. E quem tem o maior ativo ambiental do mundo? Talvez sejamos nós.
O senhor pode citar exemplos práticos?
Negociação de crédito de carbono. Quando você evita o desmatamento de uma área vegetal, de uma floresta, você está poupando o crédito de carbono. Este é um mercado que está iniciando de forma impetuosa no mundo inteiro e a gente tem o maior estoque de crédito de carbono no mundo.
Outra forma: fazer compensação ambiental. Quando uma empresa consome algum ativo ambiental e ela tem que fazer uma compensação. Outro paralelo é o tema da "bioeconomia": toda riqueza de tecnologia, de produção de vegetais, de frutas, ou seja, tudo o que a floresta dá quando ela está mantida, aquilo é muito rico.
E há cada vez mais procura por esses ativos. É uma agenda que o BNDES está entrando de cabeça porque ela tem uma capacidade de transformar o Brasil e a gente tem chance de ser líder nesse segmento de finanças verdes.
O senhor diz que é uma demanda do mercado. Mas como oferecer esses produtos, tratar desta temática sem melindrar a parte ideológica do governo federal?
Esta nossa pauta é totalmente alinhada tanto com a pauta ambiental do governo quanto com a pauta econômica. O Brasil teve a capacidade de preservar seu ativo florestal e sua fauna. E hoje temos esse ativo, sendo cada vez mais monetizável, que ninguém tem. Já que dizem que o benefício da Amazônia é global, e a gente tem aqui o custo local, então vamos dividir esse custo. Isso é muito bem-vindo, tanto pelo ministério do Meio Ambiente quanto pelo da Economia.
A gestão de Montezano à frente do BNDES enterrou de vez a política dos "campeões nacionais" promovida pelo governo do PT, que consistia em conceder grandes empréstimos para o crescimento de empresas que já eram gigantes no Brasil. Agora, diz Montezano, a política do banco está voltada para os pequenos e médios empreendedores, que ele chama de "heróis nacionais", enquanto as companhias gigantes devem buscar empréstimos junto a outras instituições financeiras - como as do setor privado.
Como é hoje a ideologia do banco em relação à concessão de crédito? Foi o fim dos campeões nacionais (prática do passado em que o BNDES elegia algumas grandes empresas brasileiras para conceder grandes empréstimos)?
Primeiro, eu queria registrar e reafirmar que uma instituição de Estado não tem que ter ideologia. Quem trabalha para o Estado brasileiro tem que atender governo de esquerda, de direita, tudo dentro dos princípios da lei e da legalidade. Então, a gente preza por um BNDES apolítico, sem ideologia.
O BNDES não opera mais na política de grandes empresas, dos campeões nacionais. Nosso foco hoje são os heróis nacionais: pequenos e médios empreendedores que, esses sim, carregam o Brasil nas costas e merecem nossa atenção e dedicação.
Como avalia os resultados desta política?
A gente está muito feliz com o resultado que a gente alcançou nesse momento. A gente escutou bastante o setor produtivo, os pequenos produtores e aquele comentário que o crédito não chegava na ponta. Fomos testando vários modelos para ver qual produto teria maior aderência para que esse crédito fosse irrigado.
E hoje, quando a gente enxerga nosso programa emergencial de acesso ao crédito, que é um produto super inovador no Brasil, de seguro de crédito, estamos falando em mais de R$ 65 bilhões já colocados na última milha. E isso vai crescer até o final do ano.
Passada essa pandemia, quais produtos se encerram e o quais serão mantidos?
Esses produtos que a gente chamou de emergenciais, eles se encerram, em teoria, em 31 de dezembro, que é o período de calamidade. Mas, naturalmente, o que está acontecendo hoje é algo novo, então temos que ir com muita humildade ir acompanhando os movimentos do mercado e da aceleração da economia.
A nossa expectativa é que esses fundos de direito creditórios que o BNDES fez chamada pública de R$ 5 bilhões e esse seguro de crédito são iniciativas que vieram para ficar.
Quais são os maiores desafios do BNDES na área de investimentos para o ano que vem?
A gente já vai estar vendo essa agenda de concessão de infraestrutura e privatização se acelerando. A demanda por ativos de infraestrutura brasileiros é muito forte. O nosso desafio é colocar projetos de qualidade, bem estruturados a mercado para que os investidores possam monetizá-los e investir no Brasil.
Muita gente avalia que o Brasil tem a carência de elaboração de bons projetos. Qual é a sua avaliação?
Essa é uma mudança cultural no Brasil que a gente aprendeu a duras penas. Às vezes a gente fica um pouco ansioso para apresentar logo ao mercado. Mas hoje já tem uma consciência clara de que é fundamental quando você demora de 12 a 24 meses, quando você gasta um monte de gente, de horas, engenharia, ambiental, regulatório, contratos, para fazer um bom projeto. É fundamental. Estamos falando de projetos de 15, 20, 30 anos. E a gente viu em programas de governo do passado com três letrinhas qual o desastre de você fazer um programa desses com maus projetos ou projetos pouco planejados. Você investe dinheiro público, o dinheiro vira pó, vira obra parada e em vez de a sociedade
ganhar riqueza, o Brasil retrocede.
O senhor quis dizer o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento, criado na gestão do PT)?
Eu quis dizer o PAC. Exatamente.
Qual é a sua opinião sobre o teto de gastos?
O teto de gastos chegou para ficar. Vou usar a expressão da âncora fiscal. A gente pode escolher dois caminhos para levar o Brasil para frente. Um é o empreendedor brasileiro, o pequeno e médio empresário. É essa turma que puxa o Brasil para frente. E quando você colocar um teto de gasto, você está protegendo o ambiente para que esse empresário possa tomar risco, fazer investimento, criar valor, inovar. Na hora que a gente tira o teto de gastos é como se a gente tomasse a seguinte decisão: eu acredito mais no governo, eu quero pegar esse dinheiro e colocar no governo para ele alocar e deixar a vida do empresário mais turbulenta porque o governo vai fazer melhor uso desse dinheiro. Eu, sinceramente, acredito muito mais no nosso pequeno e médio empresário do que no Estado brasileiro para fazer a alocação de recursos.
SBT News: Qual é a avaliação do senhor sobre os resultados dos leilões do setor de saneamento básico?
Gustavo Montezano: O tamanho financeiro do setor de saneamento no Brasil é maior do que a gente imaginava. Quando a gente preparou a modelagem e o plano de longo prazo a gente achou que o potencial financeiro era um; e o que o mercado está mostrando para a gente, com números, é que ele tem mais rentabilidade e muito mais frutos de rentabilidade futura do que inicialmente previsto.
Isso pode gerar uma antecipação no processo de universalização do saneamento no Brasil?
Com certeza. Na hora que o investidor vê mais atratividade financeira naquele ativo, ele tem mais viabilidade de antecipar os investimentos. Isso está acontecendo não só pelo lado privado, mas conversando com os governadores e com os secretários responsáveis pelas modelagens, eles têm nos pedido para antecipar os investimentos para que a população sinta esses benefícios de uma forma mais célere.
Tecnicamente, é possível fazer essa aceleração?
Totalmente possível. Naturalmente, você tem um limite físico do investimento, porque você não consegue fazer três obras no mesmo lugar ao mesmo tempo, mas financeiramente isso é bem viável e a gente já vai verificar isso nas rodadas de 2020 no setor. Ainda tem muita água para rolar, mas queremos licitar no Rio de Janeiro e lançar o edital ainda neste ano para que o leilão ocorra em março do ano que vem.
Leia abaixo - e assista em vídeo - o que o presidente do BNDES declarou sobre outros assuntos na entrevista.
Concessão de parques nacionais fica para fim de 2021
O presidente do BNDES defendeu a privatização de parques nacionais brasileiros. O plano é que eles comecem a ser licitados no último trimestre de 2021.
Como está o planejamento para a concessão de parques nacionais brasileiros?
A concessão dos parques tem o potencial de transformar o turismo ecológico no Brasil. Ele é pouco explorado financeiramente. O exemplo que eu gosto de dar é o de Foz do Iguaçu, onde você tem um parque belíssimo, com uma boa estrutura turística e recebe milhões de visitantes. Quais os benefícios à sociedade ali? A comunidade onde os parques estão situados desenvolve seu turismo, sua gastronomia, a comunidade fica com mais capacidade de permanecer no interior. E do lado do poder público, facilita a fiscalização. É uma combinação de desenvolvimento regional nas cidades que têm os parques e proteção ambiental.
E como está o calendário dessas concessões?
A gente está fazendo uma modelagem mais leves para esses parques. A gente não pode comparar com uma rodovia, um porto, uma ferrovia. É um ativo de infraestrutura, mas é um ativo mais leve. Estamos fazendo um pacote, um programa. E esperamos que a partir do último trimestre do ano que vem a gente já consiga ver esses leilões iniciando.
Muita gente acha que vocês vão vender os nossos parques. É isso?
Muito pelo contrário. A gente não está vendendo. A gente está pegando um ativo público, que hoje o poder público não consegue cuidar e não consegue fazer a viabilização turística como a gente gostaria, e estamos dando para um operador privado para que ele possa fazer a gestão daquele ativo. Mas o ativo continua público. Quem fiscaliza, quem toma conta da parte ambiental continua sendo o poder público.
BNDES e as finanças verdes
O Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES) está investindo na criação de novos produtos financeiros para atender à demanda do mercado que busca investimento galgado em práticas de sustentabilidade ambiental. Montezano destaca a necessidade de monetizar os ativos verdes do Brasil, como a floresta Amazônica, por exemplo.
Como é a política do BNDES hoje para concessão de crédito sustentável?
Quando a gente fala de política de concessão de crédito para ativos ambientais, o BNDES não se diferencia muito dos bancos privados.
Onde a gente está apostando nossas fichas e realmente vendo que o BNDES pode fazer a diferença? Na criação de novos produtos financeiros. A demanda por ativos ambientais está crescendo no mundo. E quem tem o maior ativo ambiental do mundo? Talvez sejamos nós.
O senhor pode citar exemplos práticos?
Negociação de crédito de carbono. Quando você evita o desmatamento de uma área vegetal, de uma floresta, você está poupando o crédito de carbono. Este é um mercado que está iniciando de forma impetuosa no mundo inteiro e a gente tem o maior estoque de crédito de carbono no mundo.
Outra forma: fazer compensação ambiental. Quando uma empresa consome algum ativo ambiental e ela tem que fazer uma compensação. Outro paralelo é o tema da "bioeconomia": toda riqueza de tecnologia, de produção de vegetais, de frutas, ou seja, tudo o que a floresta dá quando ela está mantida, aquilo é muito rico.
E há cada vez mais procura por esses ativos. É uma agenda que o BNDES está entrando de cabeça porque ela tem uma capacidade de transformar o Brasil e a gente tem chance de ser líder nesse segmento de finanças verdes.
O senhor diz que é uma demanda do mercado. Mas como oferecer esses produtos, tratar desta temática sem melindrar a parte ideológica do governo federal?
Esta nossa pauta é totalmente alinhada tanto com a pauta ambiental do governo quanto com a pauta econômica. O Brasil teve a capacidade de preservar seu ativo florestal e sua fauna. E hoje temos esse ativo, sendo cada vez mais monetizável, que ninguém tem. Já que dizem que o benefício da Amazônia é global, e a gente tem aqui o custo local, então vamos dividir esse custo. Isso é muito bem-vindo, tanto pelo ministério do Meio Ambiente quanto pelo da Economia.
"Prezamos por um BNDES apolítico"
A gestão de Montezano à frente do BNDES enterrou de vez a política dos "campeões nacionais" promovida pelo governo do PT, que consistia em conceder grandes empréstimos para o crescimento de empresas que já eram gigantes no Brasil. Agora, diz Montezano, a política do banco está voltada para os pequenos e médios empreendedores, que ele chama de "heróis nacionais", enquanto as companhias gigantes devem buscar empréstimos junto a outras instituições financeiras - como as do setor privado.
Como é hoje a ideologia do banco em relação à concessão de crédito? Foi o fim dos campeões nacionais (prática do passado em que o BNDES elegia algumas grandes empresas brasileiras para conceder grandes empréstimos)?
Primeiro, eu queria registrar e reafirmar que uma instituição de Estado não tem que ter ideologia. Quem trabalha para o Estado brasileiro tem que atender governo de esquerda, de direita, tudo dentro dos princípios da lei e da legalidade. Então, a gente preza por um BNDES apolítico, sem ideologia.
O BNDES não opera mais na política de grandes empresas, dos campeões nacionais. Nosso foco hoje são os heróis nacionais: pequenos e médios empreendedores que, esses sim, carregam o Brasil nas costas e merecem nossa atenção e dedicação.
Como avalia os resultados desta política?
A gente está muito feliz com o resultado que a gente alcançou nesse momento. A gente escutou bastante o setor produtivo, os pequenos produtores e aquele comentário que o crédito não chegava na ponta. Fomos testando vários modelos para ver qual produto teria maior aderência para que esse crédito fosse irrigado.
E hoje, quando a gente enxerga nosso programa emergencial de acesso ao crédito, que é um produto super inovador no Brasil, de seguro de crédito, estamos falando em mais de R$ 65 bilhões já colocados na última milha. E isso vai crescer até o final do ano.
Passada essa pandemia, quais produtos se encerram e o quais serão mantidos?
Esses produtos que a gente chamou de emergenciais, eles se encerram, em teoria, em 31 de dezembro, que é o período de calamidade. Mas, naturalmente, o que está acontecendo hoje é algo novo, então temos que ir com muita humildade ir acompanhando os movimentos do mercado e da aceleração da economia.
A nossa expectativa é que esses fundos de direito creditórios que o BNDES fez chamada pública de R$ 5 bilhões e esse seguro de crédito são iniciativas que vieram para ficar.
Quais são os maiores desafios do BNDES na área de investimentos para o ano que vem?
A gente já vai estar vendo essa agenda de concessão de infraestrutura e privatização se acelerando. A demanda por ativos de infraestrutura brasileiros é muito forte. O nosso desafio é colocar projetos de qualidade, bem estruturados a mercado para que os investidores possam monetizá-los e investir no Brasil.
Muita gente avalia que o Brasil tem a carência de elaboração de bons projetos. Qual é a sua avaliação?
Essa é uma mudança cultural no Brasil que a gente aprendeu a duras penas. Às vezes a gente fica um pouco ansioso para apresentar logo ao mercado. Mas hoje já tem uma consciência clara de que é fundamental quando você demora de 12 a 24 meses, quando você gasta um monte de gente, de horas, engenharia, ambiental, regulatório, contratos, para fazer um bom projeto. É fundamental. Estamos falando de projetos de 15, 20, 30 anos. E a gente viu em programas de governo do passado com três letrinhas qual o desastre de você fazer um programa desses com maus projetos ou projetos pouco planejados. Você investe dinheiro público, o dinheiro vira pó, vira obra parada e em vez de a sociedade
ganhar riqueza, o Brasil retrocede.
O senhor quis dizer o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento, criado na gestão do PT)?
Eu quis dizer o PAC. Exatamente.
Qual é a sua opinião sobre o teto de gastos?
O teto de gastos chegou para ficar. Vou usar a expressão da âncora fiscal. A gente pode escolher dois caminhos para levar o Brasil para frente. Um é o empreendedor brasileiro, o pequeno e médio empresário. É essa turma que puxa o Brasil para frente. E quando você colocar um teto de gasto, você está protegendo o ambiente para que esse empresário possa tomar risco, fazer investimento, criar valor, inovar. Na hora que a gente tira o teto de gastos é como se a gente tomasse a seguinte decisão: eu acredito mais no governo, eu quero pegar esse dinheiro e colocar no governo para ele alocar e deixar a vida do empresário mais turbulenta porque o governo vai fazer melhor uso desse dinheiro. Eu, sinceramente, acredito muito mais no nosso pequeno e médio empresário do que no Estado brasileiro para fazer a alocação de recursos.
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