Exclusivo: reportagem acessa galpão onde são armazenados “vapes” apreendidos
Dispositivos, incluindo cigarros eletrônicos com maconha, batem recorde histórico de apreensões; combate envolve operações terrestres e digitais
Fernanda Trigueiro
Cristian Mendes
André Paino
A Delegacia Antipirataria do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC), em São Paulo, tem registrado um aumento significativo na apreensão de “vapes” — dispositivos eletrônicos utilizados para fumar. Só este ano, a Receita Federal estima recolher mais de 2 milhões desses produtos, estabelecendo um novo recorde histórico.
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Esses dispositivos – chamados também de “vaporizadores” ou “pods” estão misturados a outras mercadorias contrabandeadas que abastecem galerias populares, como as da Rua 25 de Março, centro do comércio informal da capital paulista. Nas ruas, a variedade de modelos e sabores chama atenção. Preços variam de R$ 25 a R$ 600, com modelos mais avançados contendo até substâncias ilícitas, como maconha. Jovens são os principais consumidores.
Segundo o delegado Wagner Carrasco, "a prática de consumo do cigarro eletrônico aumentou muito, e isso é uma preocupação de saúde pública e todos os órgãos". Em uma das operações, foram identificados “vapes” turbinados com THC, principal componente psicoativo da maconha, e até gomas de mascar contendo a substância, configurando o crime de tráfico de drogas.
Rotas do contrabando e impacto do crime
Os “vapes” chegam ao Brasil principalmente pelas fronteiras terrestres, como Paraná e Mato Grosso do Sul, vindos da Bolívia, Paraguai e Uruguai. Parte do contrabando também é interceptada em portos, segundo Alan Towersey, chefe da divisão de repressão ao contrabando e descaminho da Receita Federal. "Todos esses dispositivos, sob nossa ótica, configuram contrabando, já que não são fabricados no Brasil", afirma.
De janeiro a setembro deste ano, mais de 1,7 milhão de unidades foram recolhidas, superando os números dos dois anos anteriores. A projeção é de que até dezembro o total ultrapasse 2,3 milhões de dispositivos apreendidos.
Penalidades e ações contra o comércio ilegal
A venda ilegal desses dispositivos acarreta penas que vão de dois a cinco anos de prisão para contrabando e de cinco a 15 para tráfico de drogas. Além disso, a Receita Federal implementa a suspensão de CNPJs de estabelecimentos flagrados e atua em parceria com o Ministério Público Estadual para bloquear sites de comércio eletrônico que comercializam esses produtos. Até agora, cerca de 50 portais foram derrubados.
Alan Towersey alerta para o impacto do consumo desses produtos: "Um elevado potencial dano à saúde, também está conexo a todo uma cadeia logística e financeira criminosa. Tudo isso faz parte de uma estrutura maior de crime organizado que pode ser alimentada pelo dinheiro dessas pessoas que estão comprando esses produtos".
Em nota, o SBT informou que os cigarros eletrônicos adquiridos pela equipe serão analisados pela Universidade de Campinas (Unicamp). Os resultados serão divulgados em uma reportagem especial futura.