Belém mantém viva tradição centenária do "Banho de Cheiro"
Ritual trazido pelos portugueses ao Brasil abre as celebrações do São João no Pará
Nara Bandeira
No Pará, a chegada do São João é acompanhada de uma tradição centenária: o "Banho de Cheiro". Trazido ao Brasil pelos portugueses, o ritual é mantido até os dias de hoje pelas vendedoras de ervas do mercado "Ver-o-Peso", na capital Belém, e passado de geração a geração.
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Foi assim com a Patrícia, filha da Dona Iranilda, erveira na feira do "Ver-o-Peso" há 45 anos. "Tem o segredo da casa: só as ervas cheirosas, todas de tradição de banho e cheiro mesmo", conta a erveira.
No vaso de barro, ervas da floresta amazônica, como priprioca, patchouli, chega-te-a-mim. A mistura leva ainda as essências, armazenadas em vidrinhos coloridos. O objetivo do banho: afastar energias ruins e atrair coisas boas. "São produtos, ervas, que dã sorte, amor, prosperidade, saúde", acrescenta Patrícia.
O "Banho de Cheiro" é tomado na véspera ou no dia de São João. Ele pode ser feito molhando o corpo todo, da cabeça aos pés, ou respingando. Mas, o mais importante: tem que acreditar que o ritual vai dar certo.
Uma crença que vem desde os tempos da colonização, conforme explica o historiador Márcio Neco. "Devido à tradição que os portugueses que vieram para cá tinham de, na véspera do São João, se banhar nos rios. Então, vai haver uma interação cultural, pois, aqui, o poder das ervas sempre acompanhou as práticas e os saberes dos povos originários que aqui viviam".
Antônio é de Palmas, no Tocantins, e diz que, depois do banho, vai voltar para casa pronto para a batalha do dia a dia. "Ele tira aquela murrinhas do corpo e eu, como uma pessoa que trabalho a noite toda, às vezes chego muito cansado. Mas, com certeza, ao sair daqui, vou sair revigorado, vou sair firme, vou sair forte", diz o motorista.
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