Exclusivo: a cada 8 horas, um motorista deixa de prestar socorro após acidente em São Paulo
A cada minuto que uma vítima em parada cardiorrespiratória deixa de receber atendimento médico, mesmo à distância, chance de sobreviver cai 10%
Derick Toda
Nathalia Fruet
Celso Costa Jr.
Thiago Dell'Orti
Guilherme Schiavo Rodrigues, de 25 anos, andava de moto quando foi atingido por um motorista alcoolizado em uma Mercedes AMG, na Raposo Tavares, em Araçoiaba da Serra, interior de São Paulo.
A defesa de Matheus Madia, que dirigia o carro, alega que ele se feriu na batida e foi socorrido pelo pai, médico, que o levou para um hospital da família. Guilherme não recebeu nenhum atendimento e morreu deixado na pista. O advogado da família destaca que o motorista do carro de luxo era estudante de medicina, o que tona ainda mais grave a omissão de socorro. O advogado de Matheus nega que o cliente tenha se omitido.
A quantidade de motoristas envolvidos em casos de omissão de socorro em acidentes de trânsito voltou a crescer no estado de São Paulo, nos últimos três anos.
No primeiro semestre de 2014, 2.531 motoristas deixaram de prestar socorro médico. Em 2022, no mesmo período, a quantidade de condutores omissos caiu para 340. No entanto, nos seis primeiros meses deste ano, 519 motoristas não acionaram nem o Samu para a vítima acidentada.
Segundo o Código Penal, basta uma pessoa envolvida em um acidente ligar para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que deixa de responder por crime de omissão de socorro. que prevê pena de um a seis meses de prisão. Em caso de morte, a detenção é de cinco a oito anos.
De 2014 a junho deste ano, ao todo, 14.443 mil motoristas tiveram comportamento omisso. Em média, são quase quatro condutores envolvidos por dia em casos de omissão de socorro.
O levantamento é do jornalismo do SBT com dados da Secretaria de Segurança Pública, obtidos via Lei de Acesso à Informação.
Cada minuto importa
De acordo com o Elias Paiva, socorrista e diretor de comunicação do Samu, a rapidez no socorro é fundamental para salvar uma vida.
"A cada minuto que uma vítima fica em parada cardiorrespiratória e deixa de receber atendimento médico, mesmo que por telefone, a chance de ela sobreviver cai 10%", afirma.
Na experiência de Paiva, os motoristas deixam de prestar socorro por terem cometido alguma infração antes da colisão. Por exemplo, dirigir automóvel com documentos vencidos, estar alcoolizado, acima da velocidade permitida, entre outros delitos. O que sobra para as vítimas são sequelas e, para a família, a dor de perdas que poderiam ter sido evitadas.