Vítima não reconhece jovem que foi preso injustamente e diz que foi induzida por policiais a reconhecê-lo
Caso foi registrado em Carapicuíba (SP); rapaz de 23 anos ficou detido por 10 dias após ser confundido com ladrões e foi absolvido
Primeiro Impacto
Gleidson da Silva Baptista de Oliveira, 23 anos, foi absolvido pela Justiça após passar 10 dias preso injustamente em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Ele havia sido confundido com um dos ladrões que roubaram uma moto na região. A absolvição ocorreu depois que novas provas foram apresentadas e a vítima do crime afirmou, em juízo, que foi induzida pelos policiais a reconhecê-lo.
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“O caso teve uma reviravolta, a vítima voltou atrás. Ela falou que, querendo ou não, foi induzida pelos policiais militares que prenderam o Gleidson antes do reconhecimento perante a autoridade policial, que é o delegado”, segundo o advogado do rapaz, Hamilton Freitas.
Ainda de acordo com o defensor, os policiais perguntaram à vítima do roubo se o homem da foto – o jovem Gleidson - era o ladrão. “A vítima teria dito ‘não’. ‘Foi sim, pegamos ele com a sua moto’ [teria dito os policiais]. No ato do reconhecimento perante o delegado, a vítima disse que se sentiu constrangida em ir contra o que os policiais falaram. Aí ela reconheceu. Mas, em juízo, ela disse que não tem nenhuma condição de reconhecer, nem os verdadeiros ladrões”, relatou o advogado, acrescentando o erro policial que resultou na prisão de um inocente.
O caso ganhou repercussão após imagens transmitidas pelo Primeiro Impacto mostrarem os verdadeiros criminosos correndo pela rua no dia do crime, em 30 de outubro. Essas provas foram essenciais para comprovar que Gleidson não estava envolvido no roubo. Ele foi libertado no último dia 8 de novembro, no CDP de Itapecerica da Serra, e recebeu o apoio da família na saída.
Ainda de acordo com o advogado, a Promotoria não quis ouvir o depoimento dos policiais militares envolvidos, diante das provas irrefutáveis oferecidas e do relato da vítima do roubo. Freitas acrescentou que a Promotoria solicitou instauração de sindicância para apurar a conduta dos PMs.
“O erro foi corrigido diante da Justiça, que foi muito célere”, afirmou Freitas, que também anunciou que entrará com um pedido de indenização contra o Estado, que é o “responsável pelos atos da Polícia Militar. É uma obrigação do estado indenizar o Gleidson, não é um favor”, disse.
Gleidson relatou as dificuldades enfrentadas durante os dias de detenção. Segundo o rapaz, a alimentação era baseada em “pão e água”, descrevendo o período como um verdadeiro horror.
O erro que levou à prisão
No dia do crime, Gleidson usava uma blusa cinza, semelhante à dos assaltantes. Apesar de os ladrões estarem de capacete, o que impedia a identificação facial, a vítima indicou Gleidson como suspeito por causa do moletom. No entanto, câmeras de segurança de um mercadinho próximo à casa de Gleidson mostram ele caminhando tranquilamente pela rua no mesmo momento em que os criminosos fugiam correndo em sentido oposto.
Vizinhos e familiares confirmaram que, na hora do crime, Gleidson estava na porta de casa conversando com dois amigos. Ele trabalha em uma empresa de tecidos, nunca teve passagens pela polícia e sofre de problemas psicológicos que o impediram de aprender a ler e escrever.
A família de Gleidson também reconheceu o verdadeiro ladrão nas imagens e chegou a confrontar a mãe do suspeito, que admitiu ter retirado o filho da cidade e se recusava a apresentá-lo à polícia.