Com história clássica, Steven Spielberg vai ao Oscar com seu 1º musical
Diretor, que já revolucionou o cinema várias vezes, acumula na carreira 19 indicações ao Oscar
Cleide Klock
Hollywood -- A pergunta mais frequente que todos se faziam antes de assistir à nova versão de Amor, Sublime Amor era: por que e para que refilmar uma obra tão bem sucedida que lá em 1961 ganhou dez estatuetas do Oscar -- inclusive de Melhor Filme -- e é um clássico da sétima arte? Mas, a gente até esquece dessas indagações após assistir à renovação e composição que Steven Spielberg leva à tela e que agora concorre ao Oscar em sete categorias, entre elas Melhor Filme, Direção e Atriz Coadjuvante para Ariana DeBose, a grande favorita à estatueta.
A adaptação do musical, que estreou na Broadway em 1957 e foi baseado em uma das tragédias mais populares de William Shakespeare, Romeu e Julieta, agora vem repleta de latinidade, com elenco formado por descendentes de porto-riquenhos, colombianos e cubanos, apesar do roteirista, Tony Kushner, e do próprio diretor serem brancos. Uma parte do filme é falada em espanhol, sem que os trechos tenham sido legendados aqui nos Estados Unidos.
O filme original, assim como a peça, já levantava discussões sobre racismo, discriminação de gênero, conflitos de classe. Mas Spielberg acrescentou outra realidade em voga nas grandes metrópoles que empurra ainda mais a classe trabalhadora para outros cantos da cidade: a gentrificação. De repente, uma área se valoriza ao extremo e quem mora aí se vê em meio a entulhos. No cenário do filme, Manhattan, não é diferente e a demolição das casas dá lugar ao imponente Lincoln Center.
O enredo tem como pano de fundo um amor avassalador e proibido entre Maria (Rachel Zegler) e Tony (Ansel Elgort). Ela, irmã do principal representante do grupo dos porto-riquenhos Sharks, e ele, ex-membro e melhor amigo do líder de uma gangue de jovens brancos, os Jets.
Paixão antiga
Spielberg tinha 10 anos quando teve um primeiro contato com o musical Amor, Sublime Amor. Os pais dele compraram o disco da peça da Broadway e o pequeno Steven, lá no Arizona, logo saiu cantando as músicas. Durante toda vida, essas mesmas canções embalaram a mente criativa do cineasta. Quatro anos depois, assistiu à obra original, no cinema, cinco vezes. O diretor contou que a inspiração para seu filme veio totalmente do musical da Broadway, não da versão original do longa.
"Amor, Sublime Amor sempre foi o meu musical favorito da Broadway. Desde quando ganhei o disco, as músicas do show sempre estiveram presentes na minha vida e foi uma história que sempre quis filmar. O maior desafio para mim foi estar nos meus 70 anos e fazer uma produção em um gênero que eu nunca tinha feito antes e a ideia de produzir um musical era assustadora, isso após fazer 34 longas. Eu nunca fiz nada que eu nunca tinha feito antes em sua totalidade. Fazer esse filme foi completamente diferente de tudo", contou o diretor.
Segundo o cineasta, o processo de contratação de elenco demorou muito mais do que em qualquer outra produção dele, que já acumula na estante quatro estatuetas do Oscar (A Lista de Schindler -- Melhor Filme e Melhor Direção; O Resgate do Soldado Ryan -- Melhor Direção; além de uma estatueta pelo conjunto da obra, o Irving G. Thalberg Memorial Award).
"Quando você quer fazer um filme que tenha dança e música, é impossível, por exemplo, escolher atores em três semanas. Levamos um ano para selecioná-los, porque eu tinha que encontrar talentos que atuassem maravilhosamente, cantassem brilhantemente, que eram incríveis dançando, e, além disso, eles tinham que, sem fazer todas essas coisas na frente de uma câmera, nos fazer prestar atenção neles", disse o diretor em um bate-papo de divulgação do filme, em Los Angeles.
Aposta nas mulheres
Spielberg e o roteirista Tony Kushner também quiseram trazer mais representatividade feminina. A atriz Rita Moreno, que interpretou Anita no filme de 1961, nesta nova produção voltou em uma papel customizado para ela e que na versão anterior era de um homem, Doc, personagem de Ned Glass. Substituído por Valentina (Rita Moreno), a intenção era fazer com que a história do grupo dos Jets não fosse contada majoritariamente por homens.
Rita Moreno recebeu o Oscar há 60 anos como Melhor Atriz Coadjuvante e, agora, a atriz que repete seu papel, Ariana DeBose, é a grande favorita para também levar a estatueta.
Spielberg conheceu DeBose nos bastidores depois de vê-la se apresentar no musical Hamilton, na Broadway. Mas a atriz estava cética em aceitar o convite para reviver Anita, por achar que Rita Morena já havia entregado tudo à personagem. Em um primeiro momento chegou a dizer "não" ao convite de Spielberg para fazer o teste para o filme, também por achar que uma grande produção Hollywoodiana não iria contratar uma "desconhecida" para este papel. A carreira de DeBose sempre foi nos palcos -- dança desde os três anos de idade. Meses depois do primeiro 'não' aceitou o teste e relembrou que estava fazendo a unha quando teve a notícia que ganhou o papel.
"Eu estava relutante para fazer esse papel, pois eu precisava ter algo mais para oferecer, por que qual é a necessidade de duplicar ou reciclar algo tão icônico? Quando eu a encontrei pela primeira vez eu tive uma crise de ansiedade e Rita Moreno me falou: 'Pense em algo que te faça única'. E eu fiz isso. Tomei as rédeas deste papel, confiante. Então, absorvi o legado de 60 anos deste filme e pensei: 'Quando eu assisti à atuação de Rita Moreno no filme original, eu tinha oito anos e me apaixonei pela aquela mulher dançando em seu vestido roxo, me vi nela de alguma maneira, ela parecia eu. E chegou um momento que eu refleti: 'Eu vou ser aquela mulher dançando agora com o vestido amarelo para algumas meninas, que vão se ver nesta personagem'. Não era mais sobre sentir pressão, mas sim ser uma possibilidade para meninas que se pareçam comigo", disse a atriz no mesmo evento.
DeBose já recebeu os principais prêmios da temporada, entre eles o BAFTA, Critics Choice, SAG e o Globo de Ouro. Vai ser difícil tirar o Oscar das mãos dela.
Indicações de Amor, Sublime Amor
- Melhor Filme
- Melhor Diretor (Steven Spielberg)
- Melhor Atriz Coadjuvante
- Melhor som
- Melhor fotografia
- Melhor design de produção
- Melhor figurino
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