Alcolumbre defende diálogo entre poderes e Senado "soberano, autônomo e independente"; leia discurso
Favorito para ganhar eleição de novo presidente da Casa prometeu respeito a acordos e fortalecer estados e municípios
Felipe Moraes
O senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) fez discurso como candidato à presidência do Senado Federal neste sábado (1º), dia que marca eleições de novos dirigentes do Congresso Nacional. Em cerca de 15 minutos de fala, prometeu defender autonomia, soberania e independência da Casa, respeitar acordos, fortalecer estados e municípios, trabalhar por uma relação de mais harmonia entre os Três Poderes e melhorar a vida da população brasileira.
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"Sou um defensor intransigente do diálogo, da construção coletiva e das soluções compartilhadas. Para mim, governar é ouvir. Liderar é servir. E é disso que o Brasil precisa agora: uma liderança que una, e não que divida", falou o senador, favorito para comandar a Casa.
Alcolumbre citou experiência como "timoneiro na tempestade", durante a pandemia de covid-19, como fator que o credencia para comandar novamente o Senado e encarar "o desafio da pacificação, da reunião, da reconstrução". Ele presidiu a Casa e o Congresso Nacional de 2019 a 2021.
"E não haverá pacificação, não haverá reconstrução, não haverá futuro, se não houver diálogo, se não houver respeito, se não houver democracia, e democracia forte. E não haverá democracia forte sem um Congresso livre, sem um Parlamento firme, sem um Senado soberano, autônomo e independente", continuou.
Harmonia entre poderes e recado ao Supremo
Sobre a relação entre os Três Poderes, Alcolumbre disse que ela tem sido testada "por tensões e desentendimentos". Nesse sentido, falou sobre emendas parlamentares, assunto que gerou impasse entre governo, Legislativo e STF — a Corte tomou decisões bloqueando esses recursos.
"Entre esses desafios, destaco a recente controvérsia envolvendo as emendas parlamentares ao orçamento, que culminou em debates e decisões e com o Supremo Tribunal Federal e o Poder Executivo", comentou.
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"Quero ser claro: é essencial respeitar as decisões judiciais e o papel do Judiciário em nosso sistema democrático. Mas é igualmente indispensável respeitar as prerrogativas do Legislativo e garantir que este Parlamento possa exercer seu dever constitucional de legislar e representar o povo brasileiro. Essa garantia pelas prerrogativas do mandato vai muito além das questões orçamentárias. Tem a ver com o mandato parlamentar, assegurado pela Constituição", falou o senador, em recado ao Supremo.
O senador continuou: "Estou falando ao cumprimento dos acordos aqui firmados, porque sem confiança uns nos outros e sem a obediência ao que foi acordado, este parlamento se transforma em um campo de guerra e as boas ideias se perdem numa eterna e infrutífera disputa entre antagonistas".
"Daí coloco um terceiro compromisso para o qual me empenharei com determinação: acordo firmado é acordo cumprido até que um novo acordo ou uma nova maioria pense diferente", prosseguiu.
Leia discurso na íntegra de Alcolumbre como candidato à presidência do Senado:
Presidente Rodrigo Pacheco, senhoras senadoras, senhores senadores.
É com a bênção de Deus, com o apoio incondicional da minha família e com o incentivo do meu partido e de tantas outras legendas, que me coloco mais uma vez à disposição para servir a esta Casa e ao Brasil. É pra mim uma grande honra subir novamente a esta tribuna, com humildade e uma determinação renovada, para apresentar minha candidatura à Presidência do Senado Federal.
Vocês me conhecem. Sabem do meu compromisso verdadeiro com esta instituição, com o Brasil e, acima de tudo, com a população que confia em cada um de nós para representar os seus sonhos e as suas esperanças.
Sou um defensor intransigente do diálogo, da construção coletiva e das soluções compartilhadas. Para mim, governar é ouvir. Liderar é servir. E é disso que o Brasil precisa agora: uma liderança que una, e não que divida.
Durante minha gestão como Presidente desta Casa, em 2019/2020, enfrentamos um dos períodos mais desafiadores da nossa história: a pandemia global de covid-19.
Enquanto o vírus ameaçava vidas, tivemos de aprender a trabalhar distantes uns dos outros, a economia sofria abalos profundos, e a polarização política fragmentava nosso tecido social, o Senado Federal permaneceu firme, como um bastião de equilíbrio e estabilidade democrática.
Conseguimos ― juntos ― aprovar medidas fundamentais que protegeram milhões de brasileiros.
Do Auxílio Emergencial ao novo Marco Legal do Saneamento, passando por uma ampla Reforma da Previdência, provamos que esta Casa é capaz de ser ágil, eficiente, e sobretudo, sensível às necessidades do povo. Com o apoio de cada um dos senadores e senadoras, tomamos decisões corajosas.
Foram tempos difíceis, mas guardo comigo o orgulho de termos sido, o Senado Federal, parte importante da solução. Fomos o primeiro parlamento do mundo a deliberar sob o jugo do confinamento. Criamos um sistema pioneiro de votação remota, que permitiu que as atividades legislativas não parassem, mesmo no momento mais crítico da crise sanitária. E mais: compartilhamos nossa experiência com outros parlamentos do mundo, fortalecendo a democracia global em meio à incerteza.
Mas os desafios ao nosso sistema democrático não terminaram ali. Vivemos momentos em que muitos trocaram a conversa pela ofensa. A fala pelo grito. O debate saudável, pela discórdia. Mas, simplesmente repetir o que nos trouxe até aqui, não nos levará ao futuro.
E é sobre o futuro que gostaria de falar hoje.
O Brasil ainda enfrenta os ecos da intolerância e da radicalização. Adversários são tratados como inimigos. O discurso de ódio e as agressões contaminam as redes sociais. Precisamos reconstruir pontes e lembrar que os adversários são parceiros no debate democrático, típico de uma Casa como esta.
Ansiamos, todos, pela pacificação. Queremos resgatar a cordialidade que perdemos. Voltar a perceber que temos um objetivo comum: o desenvolvimento do Brasil, a felicidade de cada brasileiro, de cada brasileira.
Porque é essa pergunta que mais importa responder, a pergunta que devemos nos fazer todos os dias: como podemos facilitar a vida das pessoas, o que podemos fazer para o nosso povo viver melhor e mais feliz?
Acredito que minha experiência, de quem foi timoneiro na tempestade, me credencia para esse novo desafio: o desafio da pacificação, da reunião, da reconstrução. E não haverá pacificação, não haverá reconstrução, não haverá futuro, se não houver diálogo, se não houver respeito, se não houver democracia, e democracia forte.
E não haverá democracia forte sem um Congresso livre, sem um Parlamento firme, sem um Senado soberano, autônomo, e independente.
Por isso, meu primeiro compromisso como presidente desta Casa será com a defesa da voz do povo: o mandato parlamentar. Um compromisso com a proteção das garantias e prerrogativas de senadoras e senadores e com a preservação da independência do Senado Federal.
Defender o Senado é defender os brasileiros, é defender a legitimidade do voto e do mandato parlamentar conferido diretamente pela população. E só quem foi à rua pedir o voto popular sabe o quanto vale e o quanto significa o aval do povo às nossas ações.
O Senado Federal sempre foi, e continuará sendo, um pilar de resiliência, equilíbrio e responsabilidade. O Senado não é apenas uma Casa Legislativa; é um símbolo da força da democracia brasileira. Há 200 anos, construímos aqui o presente e lançamos as bases para o futuro. É aqui que os grandes debates se transformam em ações concretas para melhorar a vida de cada cidadão. É aqui que renovamos, diariamente, nosso compromisso com a República e com a Constituição.
Nos momentos de crise, consolidamos o papel do Senado como uma instituição independente, que dialoga com os demais Poderes, mas que não abre mão de suas prerrogativas.
E é com essa mesma postura que reafirmo meu compromisso de conduzir o Senado com altivez, sabedoria e calma, mas também com firmeza e independência.
Hoje, mais uma vez, enfrentamos desafios. O relacionamento entre os Poderes, embora seja regido pela Constituição e pela harmonia, tem sido testado por tensões e desentendimentos. Entre esses desafios, destaco a recente controvérsia envolvendo as emendas parlamentares ao orçamento, que culminou em debates e decisões e com o Supremo Tribunal Federal e o Poder Executivo.
Quero ser claro: é essencial respeitar as decisões judiciais e o papel do Judiciário em nosso sistema democrático. Mas é igualmente indispensável respeitar as prerrogativas do Legislativo e garantir que este Parlamento possa exercer seu dever constitucional de legislar e representar o povo brasileiro. Essa garantia pelas prerrogativas do mandato vai muito além das questões orçamentárias.
Tem a ver com o mandato parlamentar, assegurado pela Constituição.
Estou falando ao cumprimento dos acordos aqui firmados, porque sem confiança uns nos outros e sem a obediência ao que foi acordado, este Parlamento se transforma em um campo de guerra e as boas ideias se perdem numa eterna e infrutífera disputa entre antagonistas.
Daí coloco um terceiro compromisso para o qual me empenharei com determinação: acordo firmado é acordo cumprido até que um novo acordo ou uma nova maioria pense diferente.
O diálogo é a essência da política. É através dele que convergimos ideias, superamos diferenças e avançamos como nação.
Sei que os consensos nem sempre são rápidos ou fáceis, mas acreditem que eles são sempre o melhor caminho.
Precisamos dar tempo ao diálogo, permitir que os debates amadureçam e que as soluções se construam de forma sólida, consistente e inclusiva.
E quando os consensos se mostrarem impossíveis, que prevaleça a vontade da maioria, sempre respeitando os direitos das minorias e assegurando que cada voz seja ouvida.
A convivência harmônica entre diferenças e a busca constante pelo equilíbrio entre as vontades é o pilar de uma democracia robusta.
Um outro desafio também se coloca diante de nós: o processo legislativo bicameral que se espera do Congresso Nacional. A matéria já aprovada em uma Casa, e assim com tramitação mais avançada, tem que ser prioritária em relação a um outro projeto interno que ainda não foi apreciado.
Um Ato da Mesa, seja da Câmara, seja do Senado, não pode se sobrepor à Constituição, ao regimento comum e a décadas de tradição. E assumo assim um compromisso: de atuar para reverter o entendimento da Mesa da Câmara anterior, de apensar nossos projetos já aprovados no Senado a projetos ainda em fase inicial na Casa vizinha, a fim de que a iniciativa de lá se converta em originária, enquanto a dos senadores é esquecida.
O processo legislativo das medidas provisórias também precisa ser retomado: as comissões mistas são obrigatórias por mandamento constitucional. Suprimi-las ou negligenciá-las não é apenas errado do ponto de vista do processo: é uma redução do papel do Senado Federal.
É por isso que, apoiado por meus pares, me coloco novamente à disposição para buscar construir consensos e ajudar nos entendimentos que o Brasil tanto precisa.
O futuro nos convoca. Um futuro que exige coragem para enfrentar desafios, experiência para liderar com sabedoria e, acima de tudo, um compromisso inafastável com a democracia.
Vamos fazer o que é certo. Vamos resistir aos atalhos populistas: nenhuma das diferentes correntes políticas é puro anjo ou demônio. Evitemos os rótulos e discursos fáceis, as distorções dos debates nas redes sociais e as simplificações mal-intencionadas. Nosso objetivo é muito maior: é construir um Brasil que orgulhe as futuras gerações.
Me permitam aqui, agora, me dirigir ao povo do meu amado Amapá. O Amapá é uma síntese do Brasil: uma terra de riquezas naturais e culturais, mas também de desafios profundos.
O Amapá me trouxe a Brasília, como deputado federal, em 2002, aos 25 anos e novamente em 2006 e 2010.
Em 2014, elegeram-me o então senador mais jovem da historia do Amapá, aos 37 anos. E finalmente em 2022, entenderam que eu deveria continuar esta luta.
O Amapá representa tanto as oportunidades quanto os dilemas que marcam o Brasil.
O Amapá traz em si o paradoxo brasileiro: de um lado, a riqueza natural extraordinária, a diversidade cultural vibrante, um povo resiliente; de outro, os desafios econômicos e principalmente os sociais.
Meu compromisso com o Amapá é, portanto, também um compromisso com cada estado do Brasil: o compromisso de encurtar essas nossas distâncias, de reduzir as nossas desigualdades, de superar as nossas diferenças.
Esta é a minha missão.
Colegas, sei que não caminho sozinho. Reconheço em cada um de vocês a vontade de fazer a diferença, de transformar este país.
Após o fim do meu mandato, tive a honra de passar o bastão ao senador Rodrigo Pacheco, um dos mais completos homens públicos deste país, um líder equilibrado, coerente, preparado e comprometido com os valores democráticos. Seu trabalho nestes últimos quatro anos consolidou os avanços iniciados por esta Casa e fortaleceu o papel do Senado como pilar da democracia brasileira.
Senador Rodrigo Pacheco, minha gratidão e meu reconhecimento pelo legado que deixa. Sua liderança nos inspira e nos mostra o caminho a seguir: o caminho da união, da moderação e da busca pelo bem comum. A experiência que adquiri como presidente, aliada ao aprendizado destes anos de parceria e trabalho conjunto com V.Exa., me fortalece para este novo desafio.
Sozinho não se vai longe, e por isso, peço humildemente o apoio de cada uma das senadoras, de cada um dos senadores. Peço o seu voto de confiança. Juntos, podemos enfrentar e vencer os desafios.
Juntos, podemos construir um Brasil mais justo e um parlamento mais unido e mais forte.
A cada senador e a cada senadora, reafirmo: tenha a certeza de que esta Casa será, cada vez mais, a casa da boa política: a política do respeito, a política do diálogo como ferramenta de construção, a política da busca de consensos.
Somos uma casa de iguais; seremos uma casa de iguais.
Em mim, encontrarão um aliado dedicado à defesa das prerrogativas parlamentares, à independência do Senado e ao fortalecimento da nossa Federação.
Cada senadora, cada senador, pode ter a certeza do meu constante empenho na consolidação do espaço do Senado na agenda política brasileira: no processo legislativo, na formulação de políticas públicas, na fiscalização do Poder Executivo, na representação dos estados e municípios, no fortalecimento da nossa Federação e na pacificação nacional.
Reafirmo meu compromisso com o Colégio de Líderes e sua importância estratégica nos trabalhos da Casa. E para além dos partidos, ouvirei cada senador, cada senadora. Sempre fui muito bem recebido por todos; e a todos sempre recebi e sempre receberei bem.
Tenho a humildade de saber conversar com quem pensa diferente. Aprendi que a divergência é sempre uma oportunidade de aprendizado e crescimento. Sei que há algo maior que nos une.
Por isso, peço a cada um, a cada uma, esse novo voto de confiança.
Não me falta vontade, não me falta coragem e não me falta disposição para enfrentar e vencer os desafios que se colocam diante de nós.
Tampouco me falta experiência.
Aos brasileiros, às brasileiras, renovo o meu compromisso com a defesa da Federação. A riqueza de um país é a riqueza de seus estados. E a riqueza de cada estado é a riqueza de seus municípios.
A minha luta é, e será sempre, para que os municípios venham a ocupar o centro de nosso arranjo federativo. Fortalecer o município é dar, a cada cidadão, o direito à cidade, que é onde se constrói, e onde se exerce, a verdadeira cidadania.
Aos brasileiros e brasileiras, renovo meu compromisso com o desenvolvimento do nosso país. Vamos trabalhar por um Brasil mais justo, mais próspero e mais unido. Vamos fortalecer estados e municípios, priorizando a descentralização para onde a vida do cidadão acontece, valorizando o pacto federativo, uma da minhas maiores lutas.
Vamos trabalhar pelo Brasil: promover a geração de emprego, o crescimento econômico, o desenvolvimento social, a saúde pública, a educação de qualidade, a segurança para todos.
Vamos ampliar oportunidades e garantir que cada cidadão tenha a chance de prosperar.
Vamos trabalhar para facilitar a vida do povo, que é para isso que nos colocaram aqui.
Vamos fazer o que é certo para o Brasil. Com responsabilidade fiscal. Com seriedade e equilíbrio. Resistindo aos discursos fáceis, às curtidas em redes sociais e aos aplausos momentâneos.
Nosso juiz será o futuro.
Vamos defender a Constituição, proteger a democracia e o estado de direito. Prometo desempenhar, pela segunda vez, com responsabilidade e ânimo renovado, a missão de presidir o Senado Federal e conduzir esta Casa com respeito e dedicação.
Agradeço a todos os senadores, a todas as senadoras, pelo companheirismo, pela oportunidade do diálogo e pela atenção de me ouvirem até aqui.
Agradeço, especialmente, àqueles que têm me acompanhado nesta caminhada, desde o trabalho de base até a candidatura para a presidência. Merecer o apoio e a confiança de tantas pessoas que admiro muito me honra. Agradeço a todas as lideranças e senadores de todos os partidos que me apoiam nesse projeto.
Agradeço, mais uma vez, ao nosso presidente, Senador Rodrigo Pacheco, pelo trabalho extraordinário, pela amizade e pela parceria.
Agradeço finalmente à minha família pelo apoio incondicional e a Deus pela força, sempre renovada.
Muito obrigado!
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