Pesquisa aponta impacto psicológico das enchentes no Rio Grande do Sul
Estudo revela que vítimas ainda enfrentam sintomas de estresse pós-traumático meses após a tragédia
SBT Brasil
Pesadelos, crises de ansiedade e tristeza. Esses são alguns dos sintomas de estresse pós-traumático que ainda afetam vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, meses após a tragédia climática. Um estudo realizado pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre analisou mais de cinco mil respostas de pessoas impactadas de alguma forma pela enchente.
+ SP: Marginal Tietê registra alagamentos e pontos intransitáveis em ambos os sentidos
Oito meses depois do desastre de maio de 2024, Ana Cristina, seu marido e os três filhos ainda convivem com os traumas da tragédia. Uma simples nuvem escura no céu já gera preocupação.
"Eu custo a dormir. Meu gurizinho também já começa a chorar. Ele ficou com trauma. 'Ah mãe, vai chover, vai chover, já fica é 'travejão', é raio, já começa a chorar, eu tenho que tá acalmando ele'. [...] Ele quer deitar comigo, não quer dormir na cama dele."
A família mora na região das Ilhas, em Porto Alegre. Durante a enchente, a água cobriu parte do telhado da casa. O casal perdeu tudo o que conquistou nos últimos 20 anos. O local, um dos mais atingidos, permaneceu quase 30 dias inundado.
"Afeta minha saúde, né? Eu fico preocupada, aí já ataca... já começa a sentir dor, já tem que tomar remédio pra dormir, não consigo limpar a casa, só quero ficar deitada, não quero fazer nada."
+ Ponte entre Tocantins e Maranhão será implodida neste domingo
Os médicos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre realizaram um estudo para entender os impactos desse trauma. A pesquisa avaliou a saúde mental de 2.500 vítimas da enchente e apontou que, 30 dias após o início do desastre, mais da metade dos entrevistados apresentava sintomas de depressão (51,8%) e ansiedade (52,1%), enquanto 42,8% sofriam de estresse pós-traumático.
"Alterações negativas no humor, que são sintomas depressivos, sintomas evitativos, ou seja, uma tendência de evitar locais menores, que evoquem o evento traumático, sintomas de hiperreatividade, com respostas emocionais disruptivas, crises de choro, existe raiva, irritabilidade, dificuldade de sono e os sintomas inclusivos, ou flashbacks, a vivência, ou os pensamentos que nos remetem de forma muito sofrida ao evento que aconteceu", explica Daniel prates Baldez, psiquiatra e pesquisador do HCPA.
Em dezembro, quando o estudo foi concluído, um quarto dos pacientes ainda relatava sintomas de estresse pós-traumático. O levantamento reforça a necessidade de ampliar a rede de apoio e acolhimento às vítimas.
"Do ponto de vista de saúde pública, a gente precisa permitir acesso a acompanhamento psicológico, seja ele por psicólogos com terapia, ou nos casos de maior gravidade, onde se fecha um critério de transtorno psiquiátrico, um acompanhamento psicológico também pode se fazer necessário", afirma o pesquisador.