Israel impõe novas restrições à agência de refugiados palestinos e ONU alerta para o risco de minar cessar-fogo
Israel alega que organização "mina a segurança interna do país" e quer impedir qualquer tipo de atividade em Jerusalém Oriental, Gaza e Cisjordânia
SBT News
As novas leis aprovadas por Israel, que proíbem as operações da agência de refugiados palestinos da ONU (UNRWA) e entram em vigor na próxima quinta-feira (30), podem intensificar a instabilidade no território palestino ocupado. O alerta foi dado por Philippe Lazzarini, Comissário-Geral da UNRWA, em reunião no Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, nesta terça-feira (27).
Lazzarini destacou que as leis aprovadas em outubro passado ameaçam a vida de milhões de palestinos e colocam em risco o cessar-fogo em Gaza. Segundo ele, “reduzir nossas operações agora — fora de um processo político — sabotará a recuperação de Gaza e minará qualquer perspectiva de paz”. Ele pediu uma intervenção decisiva do Conselho para garantir estabilidade na região e proteção aos refugiados.
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Por outro lado, Danny Danon, representante de Israel na ONU, anunciou que o país cortará todas as comunicações com a UNRWA e seus representantes. “Israel encerrará toda comunicação de colaboração e contato com a UNRWA ou qualquer pessoa agindo em seu nome”, afirmou Danon, segundo a AFP.
Israel alega que a organização 'mina' a segurança interna do país ao se recusar a "lidar com a infiltração generalizada de suas fileiras pelo Hamas".
As novas restrições impostas pela legislação incluem a proibição das atividades da UNRWA em Jerusalém Oriental, Gaza e Cisjordânia, territórios palestinos ocupados, além de impedir contatos entre o governo israelense e a agência. Em Jerusalém Oriental, a retirada imediata da UNRWA deixará 70 mil pacientes sem acesso a serviços de saúde e mais de mil estudantes sem educação, segundo Lazzarini.
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“Reduzir nossas operações agora — fora de um processo político e quando a confiança na comunidade internacional está tão baixa — minará o cessar-fogo. Isso sabotará a recuperação e a transição política de Gaza”, disse Lazzarini.
Desafios financeiros e políticos
As operações da UNRWA já enfrentam desafios financeiros severos, agravados por cortes no financiamento de doadores-chave. Lazzarini enfatizou que as contribuições são urgentes para evitar o colapso das atividades da agência, que já enfrenta uma campanha de desinformação
O chefe da organização também enfatizou que o trabalho da agência não pode simplesmente ser transferido para outras entidades, pois sua escala e relacionamento de confiança com as comunidades são incomparáveis.“A mera presença da Agência traz estabilidade em meio a uma profunda incerteza”, disse ele. “Minar a UNRWA sabotará a recuperação de Gaza e qualquer perspectiva de paz.”
Em Jerusalém Oriental, onde a legislação do Knesset exige a expulsão imediata da agência, 70.000 pacientes e 1.000 estudantes perderão acesso a serviços de saúde e educação.
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Criada pela ONU para apoiar os refugiados palestinos até que uma solução política seja alcançada, a UNRWA desempenha um papel crucial ao prover serviços de saúde, educação e assistência básica no território. “Minar a agência não apenas compromete sua neutralidade, mas também coloca em risco as vidas e a dignidade de milhões de pessoas”, afirmou o Comissário-Geral.
Lazzarini apelou aos membros do Conselho de Segurança para que se oponham à legislação israelense e garantam um financiamento contínuo à agência, além de defenderem uma solução política justa e duradoura para os refugiados palestinos.
“A UNRWA sempre foi concebida para ser temporária”, disse ele. “Uma solução política justa e duradoura permitiria à Agência concluir seu mandato, garantindo que seus serviços vitais sejam entregues a um estado palestino funcional"